AS MINHAS MÃOS

as minhas mãos

Volto a ser criança.
Minha mente está vazia,
ouço a voz do meu coração
chamando por mim.
A sabedoria vem chegando,
o espírito despertando.
Estou feliz!
As memórias vêm.
Olho as minhas mãos!
São de criança,
mexem na terra.
São mãos de jovem,
acariciam a minha mãe,
abraçam o Mundo,
aprendem a amar.
São mãos de mãe,
abraçam meus filhos,
embalam,
dão as mãos
em campos de girassóis.
Volto num instante.
Estou no presente…
Olho as minhas mãos.
Estão a envelhecer
mas são tão lindas!
Adoro vê-las abraçar,
plantar flores,
acariciar crianças,
escrever palavras
em forma de poesia.
São mãos que não param,
porque estão vivas,
aqui e agora!

MEMÓRIAS DE NATAL ....PORQUÊ NESTE NATAL?



Já vou mãezinha, estou só acabar a camisolinha do menino.
Está bem, não te demores que precisamos de fazer a lista das compras, respondeu com ar sorridente.
Aproveitava todos os momentos para acabar os inúmeros presentes que ainda tinha para este Natal.
Dei por mim a pensar que já nem estava tão preguiçosa para fazer aqueles trabalhos de lã, que a minha mãe me ensinara a fazer, e que por vezes me aborreciam tanto.
Estava demasiado feliz!
Ao fim de 4 longos anos, íamos estar de novo todos juntos no Natal.
Era a mais nova de 5 irmãos e a guerra do ultramar há já algum tempo que não permitia a alegria de passarmos um Natal todos juntos.
Apesar de já ter 21 anos parecia uma autêntica criança.
A sorrir, pensava que os meus sobrinhos mais pequeninos ainda acreditavam no Pai Natal e imaginava quem seria o escolhido para se fazer passar por ele.
O céu parecia ter mais estrelas quando, naqueles dias frios de Dezembro, abria a janela do quarto e olhava para o infinito.
Será que vai nevar?
Seria ouro sobre azul!
Os manos tinham saudades da neve e os meninos ainda não a conheciam.
As árvores ficariam lindas e o jardim, que se podia ver da janela da minha casa, cobria-se com um manto branco que ninguém ousava pisar. 
Ah... e que lindas aquelas flores que deixavam à mostra um pouco da sua cor!
Fechava os olhos e imaginava os pezinhos pequeninos dos mais novos enterrados na neve e a voz da minha a mãe a chamar por mim:
Vê se tens juízo, olha que os meninos podem-se constipar.
Ah, a minha cabeça não parava de sonhar, tudo me parecia tão real!
Os preparativos começaram logo no início de Dezembro e nada podia falhar, ouvia o meu pai dizer ao jantar.
Uma noite foi destinada para ele partir o bacalhau às postas. Não dava para acreditar a perfeição com que fazia tal trabalho...pareciam cortadas à régua de tão simétricas que ficavam.
Nunca consegui cortar um bacalhau assim!
Na Serra das Meadas, apanhei musgo verdinho salpicado de bolinhas de azevinho para o presépio.
Essa tarefa coube-me a mim e foi mais uma noite a desembrulhar aquelas adoráveis figurinhas de barro, pintadas à mão, que com carinho lá ia colocando em cima do musgo que cheirava a eucaliptos e pinheiros. Até consegui fazer a simulação de um rio e colocar os carneirinhos a beber água....lembro-me de ficar ali a usufruir daquela pequena maravilha...tudo tão simples e tão mágico!
O menino Jesus era único! Não só por ser de marfim, mas também pelo seu tamanho. Pequenino de tal maneira, que mais parecia uma estrelinha a brilhar em noite sem lua.
Pensava sempre nessa altura quem teria sido o autor de tal obra. Nunca vim a saber!
Montei também a árvore, a um canto do presépio, e enfeitei-a com figurinhas de chocolate em formato de pinhas, sininhos, pais natais e bolinhas.
As fitas coloridas e brilhantes, anjinhos de cartão, pintadinhos às cores, e alguns embrulhinhos que faziam lembrar prendinhas, tornavam a árvore mágica... e eu sorria feliz a olhar mais uma tarefa concluída.

Uma noite o meu pai trouxe confeitos às cores, que foram distribuídos por saquinhos de pano todas iguais. Na noite de Natal era costume cada um ter o seu saquinho para poder jogar o jogo do rapa....tira, põe e deixa. Este jogo era uma tradição antiga, que quando éramos mais pequenos, nunca faltava nos nossos Natais.
Este ano vão ser  para os mais pequenos, dizia o meu pai com os olhos a brilhar.
À medida que os dias passavam mais a saudade apertava e não via o dia 24 chegar.
A minha mãe comprou presentes para os netinhos e só faltava mesmo comprar os alimentos mais frescos para confeccionar os doces tradicionais.
Estava muito frio naquele dia 21 de Dezembro de 1972, em Lamego.
Combinei com a minha mãe que depois do jantar iríamos preparar a abóbora menina, que depois de cozida tinha que escorrer num saco de pano toda a noite ao relento, para no dia seguinte fazer os deliciosos bolinhos de gerimu e também a chila, não menos trabalhosa, que  tinha de ser preparada com todo o cuidado.
Depois do almoço a minha mãe preparou-se para ir ao cabeleireiro e fazer uma visita de Natal a uma prima mais velha, a quem gostava sempre de levar uns deliciosos biscoitos de azeite, feitos por ela.
Fiquei em casa a terminar os últimos presentes e a ajudar a empregada nas últimas limpezas da casa.
As horas foram passando e de vez enquanto olhava o relógio sem saber o porquê da tanta demora da minha mãe.
Lembrei-me que era  possível ter ido  à missa das 6h e sorri ao pensar que ela adorava ir assistir, sempre que podia, a uma missinha....foi mesmo o que aconteceu!                        
O frio apertava!
A noite caiu trazendo consigo um frio gélido que se estendia por aquela cidade tão pequenina, mas tão acolhedora.
Espreitei pela janela e vi que o céu estava branco e quase que podia sentir o cheiro da neve.
Estava tudo a tomar o rumo certo. Até neve iríamos ter!
Comecei a preparar o jantar para que não houvesse atrasos nas tarefas combinadas e perto das 7h senti a porta da rua a abrir.
Do cimo das escadas perguntei:
Mãezinha, está bem?
Estou na cozinha a adiantar o jantar, acrescentei.
A resposta não chegou e esperei um pouco mais.
Fez-se um enorme silêncio e o meu coração bateu devagarinho. Deve estar a olhar a mala que o mano deixou pousada no meio do quarto, pensei.
Não fiquei muito convencida com aquele pensamento e desci rapidamente as escadas duas a duas, como sempre costumava fazer.
Entro no quarto e deparo com a minha mãe estática, olhando fixamente a mala.
Ainda da porta perguntei:
Sabe quem chegou?
O teu irmão, respondeu num tom baixo e sem se mexer.
Nesse preciso momento cheguei perto dela e só tive tempo de a segurar com os meus braços. Puxei-a para a cama e não sabia o que fazer. Deixou de me falar, não respondia, momentos de aflição e eu ali sozinha.... e agora?
Puxei-a com força para cima da cama e corri a chamar ajuda. Veio a vizinha e rapidamente galguei as escadas correndo 100 metros para alcançar a casa do médico.
Felizmente que ele morava perto.
Tudo se passou em 15m e já nada havia a fazer.
Fiz tudo que era possível fazer naquele curto espaço de tempo e no cimo das escadas, com a cabeça entre as mãos, saíram os primeiros soluços.
Será que alguém avisou o meu pai e os meus irmãos do que acabara de acontecer?
Não consegui levantar-me dali e não queria pensar em nada. O meu corpo e a minha alma recusavam-se a aceitar tudo o que tinha acontecido tão de repente.
Finalmente chegou o meu pai e irmão e alguém avisou os outros, que rapidamente vieram do Porto.
Nessa noite, destinada a fazer tantas coisas deliciosas, estávamos ali inconsoláveis, olhando uns para os outros e com os olhos banhados de lágrimas.
Na minha cabeça martelava a frase: Porquê neste Natal? 
Só mais tarde e ao longo dos anos consegui obter uma resposta para tudo que acontecera.
Foram dois dias longos, onde não conseguia muito bem distinguir o que era ou não real.
Lembro-me que ali, perante o corpo sem vida da minha mãe, prometemos mantermo-nos unidos e amigos para sempre.
Era o grande sonho da minha mãe… a UNIÃO da sua família.
Passamos o Natal no Porto e juntamente com o meu pai fomos aceitando a sua partida.

O seu espírito, a sua memória, a sua presença e o seu sorriso ficaram connosco para sempre e todos os seus ensinamentos ganharam uma nova dimensão na vida de cada um de nós.
Ela foi sem dúvida o nosso melhor exemplo!
A partir desta data, começamos a celebrar o Natal sempre juntos e esta mulher maravilhosa é sempre recordada como a mãe mais linda, bondosa, doce e sábia que soube educar os filhos com muito amor e grande espírito de união.
Toda a sua vida e a sua partida, neste Natal, fizeram de nós a família que hoje somos.
Uma família muito especial.... que ama, perdoa, é solidária e acima de tudo mantêm-se unida nos bons e nos maus momentos.
 
Acredito que nada na nossa vida acontece por acaso!



Obrigado Quica por nos teres desafiado a escrever as nossas Memórias de Natal.

Feliz Natal!

DESAFIO DA LICAS



A minha amiga Licas (http://licas-ontemehoje.blogspot.com/) lançou-me o desafio de completar 5 frases. Não costumo aderir muito a estas coisas, por falta de tempo, mas como estamos no Natal aqui estou a responder para me dar a conhecer um pouco mais.

Estas são as respostas:

Eu já tive uns pais maravilhosos que me abraçavam em todos os Natais.
Agora tenho uma família, muito unida, que amo muito.



Eu nunca digo que não sei ou não posso fazer aquilo que me pedem. Para mim não há impossíveis. Quando acontece não conseguir atingir o objectivo proposto, não esmoreço perante os obstáculos que encontro no caminho. A consciência que tenho do meu poder e da minha força ajudam-me a sorrir e a recomeçar.


Eu sei que sozinha não tenho poder para ajudar todos aqueles que necessitam, mas no meu caminho têm aparecido pessoas maravilhosas que me vão ajudando e me dão força para nunca desistir. Em todos os dias da minha vida e em todos os Natais, agradeço a minha existência e a deles também.




Eu quero, quando partir, deixar uma boa e linda recordação da minha passagem pela Terra. Quero que se lembrem sempre do meu sorriso, amor incondicional, disponibilidade, solidariedade  e acima de tudo que nunca desistam de lutar por um Mundo melhor e mais justo.


Eu sonho ter na minha vida e em todos os Natais, abundância para ajudar os meus filhos e os mais desfavorecidos. Sonho ter sempre a minha família junta no Natal e adoro os nossos serões com música e histórias improvisadas.


Agora passo este desafio a todos os  amigos que me visitam e me incentivam a continuar a caminhar.
Quem desejar pode deixar as respostas nos comentários ou levar o desafio para o seu blogue

Obrigado à Licas e a todos que tiveram  paciência de me ler.

Beijinhos coloridos

Canduxa

MINHA FILHA DE CORPO E ALMA

Faz hoje 30 anos que uma estrelinha desceu do céu e pousou no meu regaço.
Para ela a minha homenagem e o meu grande abraço de amor eterno.



Passei tão depressa pelo tempo,
detive-me tão pouco com lembranças
esperando que tudo permanecesse
e fosses sempre uma criança.
Mas passamos as duas pelo tempo
e hoje regresso ao meu passado
levando-te comigo em pensamento...

E foi assim que tudo começou.

Eras uma linda e pequena estrelinha
que brilhava lá no céu, bem junto à lua.
Querias vir cumprir tua missão,
precisavas de alguém que te cuidasse.
De repente, lá me viste no jardim
cheia de tantos e bonitos girassóis,
cabelos ao vento, menino pela mão...
aquela foi a mãe que escolheste!
Chegaste num dia frio de sol,
apaixonei-me logo que te vi.
Teu sorriso lindo, inocente
iluminou para sempre a minha vida.
Embalei-te muitos dias, muitas noites.
Cuidei de ti com todo o meu amor,
levei-te à escola e ao jardim...
Eras feliz e linda como uma flor!
Respondi às perguntas que fazias,
abracei-te e amei-te sem saber
quem eras!
Tinha ainda que aprender....
Foste crescendo sempre cheia de amor,
aquele amor que sempre tive por ti.
Quando dei conta... o tempo tinha passado!
Corri para ti, quase não te senti.
Desejei então ser teu barco, teu dono
teu palácio e povoar todos os teus sonhos.
Inquieta, muitas vezes me fugias...
Oh, como tão pouco ainda eu sabia!
Chegou depois, a altura das viagens...
Vi-te partir cheia de sonhos, fantasias
brilhozinho nos olhos e de mochila às costas.
Desejava a tua volta todos os dias!
Admirava tua força, tua coragem...
Sempre cumprias tudo o que dizias,
e sorria para ti e para mim.
Eras tão feliz e eu, feliz por ti.
Soube nessa altura quem tu eras,
minha filha e também uma estrelinha!
Ajudaste-me a encontrar novo caminho,
aquele que já tinhas percorrido!
Olhei-te bem nos olhos, feito rio
e abraçamo-nos com ternura
descobrindo
que tínhamos combinado
há muito o nosso encontro.

Obrigado pela filha, pelo que tu és.
Pelo lindo ser de luz que vejo em ti.
Pelo teu grande e lindo coração.
Pela paz que me dás quando me beijas.
Pelo sorriso que Deus colocou em ti.
Pelo amor que sei que tens por mim!
Serei sempre a estrela que te guia
No caminho que escolhes...
e percorres dia a dia.
Hoje só te digo minha filha,
Faz o favor de ser feliz...
O resto não importa!